Cruzeiro do Sul
O vereador Marinho Marte (PPS) subiu ontem à tribuna da Câmara para rebater críticas de pessoas ouvidas pelo jornal Cruzeiro do Sul em enquete sobre a Tribuna Popular, publicada ontem. Outros vereadores também se manifestaram sobre a Tribuna Popular.
Nas críticas, um dos entrevistados, o motoboy Paulo Henrique dos Santos, 22, disse acreditar que os vereadores "ouvem mais quem tem dinheiro, a periferia quase nada". E uma estudante, Gabriela Guedes, 20, referindo-se à Tribuna Popular na Câmara, disse que "existe espaço na teoria, mas não existe diálogo com a população de fato. O que existe são ilusões".
Marinho classificou a fala de Santos como "heresia". Com a afirmação de que os vereadores são eleitos pelos votos dos eleitores de toda a cidade, Marinho qualificou como ideia "tacanha" a visão de alguém imaginar que os vereadores vão ouvir na Câmara quem tem dinheiro, como se filtrassem a condição social das pessoas. Quem quer falar na Tribuna Popular, explicou, se inscreve.
"É uma imagem distorcida que eles têm da Câmara, por conta do que acontece em alguns níveis de Estado e Federal, e os vereadores, que são os mais próximos da população, acabam ouvindo literalmente o que não merecem", comparou.
Sobre dois dos entrevistados, Marinho ainda perguntou como é que uma enquete pode ouvir um cidadão de 25 anos e uma estudante de 20 anos. Quanto à estudante, ele descreveu: "Que com certeza não tem interesse nenhum nas coisas da cidade dela." Ela é Gabriela, estudante de jornalismo, já visitou a Câmara várias vezes e, quando foi ouvida na enquete, colhia assinaturas para um pedido de plebiscito de natureza política.
Para Marinho, o motoboy ouvido "deve ter participado das reuniões que o pastor Anselmo (vereador Anselmo Neto (PP)) fez aqui sobre a criação da entidade (da categoria dos motoboys)". Sobre Gabriela, Marinho também a descreveu como uma "menina, uma jovem de 20 anos, não tem o mínimo discernimento de como as coisas devem funcionar".
A polêmica teve origem com o uso da Tribuna Popular, no último dia 28, por parte do eletricista aposentado José Arnaldo da Silva Pires Sequeira, de 65 anos. Ele foi à tribuna para reclamar da falta de segurança no bairro onde mora, o Jardim Iguatemi (e também o Jardim Leocádia), e criticou os vereadores porque viu que a maioria deles ou não estava no plenário ou não prestava atenção. Após falar na tribuna, ele sentiu problemas de saúde e precisou ser medicado.
Pedido de desculpa
Ontem, além de Marinho, também falaram sobre o assunto os vereadores Muri de Brigadeiro (PRP), Carlos Leite (PT), Anselmo Neto (PP) e Tonão Silvano (SDD).
Admitindo que falava em defesa da Tribuna Popular e dos vereadores, Marinho também disse que o direito de se manifestar está garantido pela Constituição. Classificou a atitude de José Arnaldo como um "escorregão" quando ele passou a criticar itens do Regimento Interno da Câmara, como a espera para o horário em que iria falar, após a sessão ordinária. E definiu o episódio como "um acidente de percurso".
"O seu Arnaldo também tem uma certa razão, quem o trouxe aqui tinha que avisar que ele ia falar sobre policiamento", interveio Tonão. Reconheceu a procedência da reclamação do aposentado sobre falta de segurança no bairro onde mora, e lembrou que o problema se estende a outros bairros. E declarou: "Eu quero, em meu nome e em nome de todos os vereadores, pedir desculpas ao senhor Arnaldo."
Nomes na imprensa
Anselmo referiu-se à informação publicada na imprensa de que somente quatro vereadores estavam presentes no plenário na hora do discurso de José Arnaldo. "Quando a imprensa citar as coisas, cite os nomes também", desafiou. "Engraçado como o nome do vereador Anselmo Neto nunca sai, nada, graças a Deus também não sai por coisa ruim."
Anselmo não gostou de comentários, no Jardim Iguatemi, de que falam que ele não deu atenção a José Arnaldo. "Tem tanta coisa nesta cidade para discutir e a imprensa fica visando quirelas", ele criticou.
Anselmo disse que conhece José Arnaldo e foi com ele até o seu gabinete após o discurso na tribuna. O vereador também disse que o aposentado pertence a um grupo que apoiava o ex-vereador Claudemir Justi. Rebatendo comentários de que levou o aposentado à Câmara, Anselmo negou isso.
Muri, que presidia interinamente a Mesa da Câmara no início da fala de José Arnaldo, comentou: "Fiquei naquele momento em situação difícil."
O presidente da Associação Internacional de Vigilância da Cidadania, Eilovir Brito, em entrevista à imprensa, desafiou os vereadores a levarem a Tribuna Popular para os bairros. Ele informou que vai falar na Tribuna na quinta-feira da semana que vem.
Marinho acrescentou que a Câmara "é muito mais do que a Constituição permite". Segundo ele, "o Legislativo é o único poder que discute suas questões abertamente".
Carlos Leite diz que é a favor da tribuna
O vereador Carlos Leite (PT) também falou ontem na Câmara sobre a Tribuna Popular e distribuiu nota sobre o mesmo assunto. Na nota, ele afirma: "Sou absolutamente a favor do uso da Tribuna Livre da Câmara de Vereadores e sempre estou atento àquelas entidades que nela se manifestam. Sempre. Se o contrário fosse, eu negaria minhas origens e lutas."
Segundo Leite, "como cristão e cidadão atuante em minha comunidade, sempre lutei em favor de meu povo e da democracia". Ele disse que continua sua atuação política, agora dentro do Legislativo, com o mesmo espírito de líder comunitário "que defende em primeiro lugar o povo e suas melhores instituições democráticas".
Ele elogiou a Tribuna Livre como uma garantia de voz ao cidadão e sua entidade. E acrescentou: "O que eu disse à imprensa sorocabana é que o Regimento Interno não obriga o vereador a permanecer em plenário enquanto uma pessoa se manifesta na Tribuna. Jamais quis dizer que o vereador não é obrigado a ouvir o cidadão. Particularmente, estou sempre à disposição dos cidadãos para ouvi-los, e não somente quando usam a Tribuna Livre, mas em todas as ocasiões."
E finalizou: "Por essas razões, peço aos amigos cidadãos que me desculpem se não me fiz entender aos órgãos de imprensa. Garanto que minha consciência está tranquila, como sempre, porque defendo os melhores princípios Cristãos, Constitucionais e Comunitários, que garantem a liberdade de expressão e o direito do cidadão de se manifestar e lutar por mais segurança, saúde, educação e lazer." (C.A.)