da assessoria de imprensa da Prefeitura de Sorocaba
O termo de ajustamento de conduta (TAC) firmado, na semana anterior, entre o Ministério Público, o grupo empresarial responsável pela urbanização da área da antiga Fábrica Santa Maria e a Prefeitura terá consequências muito interessantes para a nossa vida cultural.
Em razão dele, a Prefeitura receberá em doação uma área de 7 mil metros quadrados, na Vila Hortência, para um espaço cultural que terá, como destaque, um Museu da Tecelagem.
A produção de tecidos de algodão foi, por mais de um século, a atividade econômica dominante em Sorocaba. Suas unidades - a partir da velha Fábrica Fonseca, agora integrada a um shopping em vias de inauguração – foram as primeiras a absorver, em larga escala, a mão de obra feminina e, o que era prática corrente à época em todo mundo, crianças com menos de dez anos de idade.
As fábricas Santa Maria e Santa Rosália, instaladas na cidade como fruto da política industrial de Rui Barbosa, primeiro ministro da Fazenda da República, consolidaram Sorocaba como centro têxtil.
Criada por empresários sorocabanos, a Santa Maria teve uma trajetória longa, marcada por altos e baixos. Começou frágil, fortalecendo-se após sua absorção pela primeira Companhia Nacional de Estamparia, organizada por Alberto Kenworthy e voltou a ser uma empresa isolada quando a Estamparia passou ao comando de Severino Pereira da Silva.
Instalada numa grande gleba urbana entre as Ruas Newton Prado, Santa Maria e Manoel Lopes, foi o marco inicial da industrialização do Além-Ponte. Construiu, para os seus trabalhadores, uma das maiores vilas operárias da cidade. O que restou de seu parque fabril é um precioso manancial de história social do trabalho. Juntamente com os dados relativos à Fonseca, à Santa Rosália, à Santo Antonio, à São Paulo e, por que não, à Votorantim, compõe o grande painel do início das fábricas de tecidos de algodão em território paulista.
Ao inaugurar-se a Usina de Itapararanga, Alfredo Maia antecipou para Sorocaba a condição possível Manchester Brasileira.
Conhecida hoje por suas bandas de rock – como The Smiths -, seus clubes de futebol - como o Manchester United -, a Manchester dos tempos de Alfredo Maia era o grande centro de fiação e tecelagem da Inglaterra. Atualmente, centraliza uma das maiores regiões metropolitanas do Reino Unido, mas sua cidade polo, com 441 mil habitantes, corresponde a dois terços de Sorocaba.
Nossa cidade de indústrias múltiplas e economia altamente diversificada é fruto da cidade dos tecelões e fiandeiros, de todas as idades, como os que acionaram as urdideiras e os teares das velhas fábricas de tecidos de algodão, como a Santa Maria.
É importante que todos os heróis anônimos que povoaram aquelas unidades fabris, cujos nomes a história não preservou, tenham suas condições de vida resgatas e preservadas, via pesquisas de ciências humanas.
É essencial que nossa cidade tenha, no grande espaço cultural da velha Fábrica Santa Maria, um Museu Sorocabano da Indústria de Tecidos de Algodão, em cujas salas e mostruários dezenas de milhares de descendentes dos operários têxteis de ontem e de hoje reconheçam, identifiquem e valorizem suas raízes.
*Artigo publicado pelo jornal Diário de Sorocaba em 10 de novembro de 2013