da assessoria de imprensa da Prefeitura de Sorocaba
Como parte de seu programa de permuta com o Zoológico de São Paulo, o maior do país, o Parque Zoológico Municipal "Quinzinho de Barros", de nossa cidade, repassou àquela instituição três exemplares machos de muriqui-do-sul.
Maior primata das Américas, o muriqui-do-sul, também conhecido como mono-carvoeiro por causa da sua face escura, como se fosse pintada a carvão, é hoje um dos animais da fauna brasileira em maior risco de extinção.
Seu habitat natural, a Mata Atlântica, da qual as formações mais amplas no Estado de São Paulo concentram-se nas Regiões de Sorocaba e Registro, é o bioma mais agredido do Brasil. Isso e mais a baixa taxa de fecundidade da espécie, o que torna a reprodução do muriqui-do-sul na natureza cada vez mais difícil.
Restam hoje em liberdade, segundo as avaliações de biólogos especializados no estudo da espécie, umas poucas centenas de indivíduos, que continuam sendo vítimas de um massacre impiedoso. Em cativeiro, sobram, em todo o Brasil, 19 muriquis, nove dos quais – oito machos e uma fêmea - estavam em Sorocaba.
Ao repassar parte de seus muriquis ao zoo paulistano, o zoo de Sorocaba está dando mais uma contribuição inestimável à tentativa de se preservar o mono-carvoeiro da desaparição total. Outra, o zoo de Sorocaba já dera em julho de 2012, quando obteve o nascimento, em cativeiro, de um filhote macho.
A extinção de uma forma de vida animal é uma perda irreparável para a humanidade. Ainda que se disponha de todos os recursos financeiros e tecnológicos do mundo, não há como recriá-la.
A questão que se coloca é se a preservação do muriqui-do- sul tem importância para mais alguém, além dos administradores de zoológicos e dos biólogos.
A melhor resposta a essa indagação quem a dá é o jornalista Reinaldo José Lopes na reportagem "Máquina de semear", publicada na edição de abril da revista Unesp Ciência. O texto informa, com base em pesquisas conduzidas do Laboratório de Biologia da Conservação, Unesp/Rio Claro, no Parque Estadual Carlos Botelho, que o mono-carvoeiro é um dos mais poderosos dispersores de sementes das espécies nativas da Mata Atlântica, superando as antas nessa função.
A interação de mamíferos de grande porte, como o muriqui-do-sul com os vegetais de que se alimentam, é fundamental para manter a saúde das matas – observa o ecólogo Rafael da Silveira Bueno, citado por José Reinaldo Lopes em sua reportagem. Florestas naturais dependem, para sua preservação e expansão, desses animais que se alimentam de frutas e ao final do seu processo digestivo, excretam as sementes.
No caso da Mata Atlântica, o papel desempenhado pelos muriquis é importantíssimo. Eles ingerem frutos silvestres em grande quantidade e, segundo os pesquisadores, "vão ao banheiro" cerca de dez vezes por dia. Examinando suas excreções, os cientistas nelas encontraram sementes de 18 diferentes espécies vegetais.
Trava-se hoje uma batalha, principalmente no Estado de São Paulo, para preservar e recuperar as formações de Mata Atlântica, presentes inclusive no Parque Corredores de Biodiversidade, que Sorocaba inaugura em junho. Nesse processo, criar condições para que os muriquis-do-sul se reproduzam e possam cumprir plenamente o seu papel na natureza interessa a todos que estão comprometidos com a sustentabilidade. E o que nossa cidade, através de seu zoo, vem fazendo com competência e seriedade.
*Artigo originalmente publicado pelo jornal Diário de Sorocaba, na edição do último domingo (19/05/2013)