da assessoria de imprensa da prefeitura de Sorocaba
Há duas semanas de tomarem uma nova direção em suas vidas, as onze gestantes do Projeto Gerações, que fazem o curso de Manicure e Pedicure, da Universidade do Trabalhador Empreendedor (Unite), voltam suas expectativas à construção de uma vida melhor.
Parceiras não apenas neste momento da gestação de uma nova vida, mas também nos sentimentos e marcas de histórias que se fundem em similaridades nem sempre felizes, essas meninas-mulheres carregam a coragem de alterar aquilo que, talvez, o destino lhes tenha preparado. Em sua maioria vivendo em situações de risco, como baixa renda, violências físicas e emocionais, elas estão despertando para uma realidade de mais esperança.
Aos 21 anos, Jéssica Cristina Ribeiro, que já é mãe de Gabrieli, 3 anos, e aguarda a chegada de Matheus, é uma dessas personagens. Morando com a mãe e mais sete irmãos, conta que aceitou fazer o curso para garantir o aumento na renda da casa. Treinando nas mãos de tias e irmãs, ela sai de casa para aprender a fazer unhas numa casa da Pastoral da Criança, no Jardim São Marcos, com o eco das palavras da filha ao vê-la se arrumando: "você já vai pro curso para poder comprar leite, né mãe?".
"Fico mais determinada, decidida a mudar a minha situação. Sei que tenho que dar um passo de cada vez, mas nunca parar", sentencia, mostrando que está tomando as rédeas de sua vida. Jéssica já traçou seus planos e, juntamente com um primo, vai abrir um pequeno salão de beleza no Parque Esmeralda, onde mora.
Melhorar a técnica
Enquanto Pedro Henrique não chega, Maiara Aparecida Pires de Oliveira, também de 21 anos, grávida de sete meses, vai aprimorando a técnica da manicure para "conquistar" clientes. Ela, que até saber da existência do curso, fazia as unhas das amigas "sem compromisso", agora consegue identificar as doenças que podem afetá-las. "Aqui fiquei sabendo que uma manchinha é sinal de deficiência e que a escamação é problema de vitamina", explica Maiara, comentando que agora entendeu até porque uma pessoa não pode entrar num centro cirúrgico usando esmalte: "é pela unha que o médico também pode ver o estado do paciente", conta.
O grau de qualidade do curso é medido também pelo nível de cuidados que o profissional tem que ter quanto ao uso de materiais. A higienização, segundo a professora Aline Harakuchi, além de exigência sanitária, é o diferencial de qualquer manicure. "Hoje não basta mais trocar plásticos de bacia. Já usamos luvas descartáveis na cliente, colocando algodão molhado para amolecimento da cutícula e os equipamentos devem ser esterilizados em estufas adequadas", explicou. A garantia da saúde do cliente é a garantia de uma clientela fiel.
A diferença que o curso oferecido pelo Projeto Gerações faz na vida dessas mulheres se traduz, ainda, na fala de Raquel de Lima Pereira, 18 anos, que garante não parar nesse aprendizado. "Descobri que quero ficar na estética, fazer outros cursos, me especializar em depilação. Meu sonho é ser feliz, ter dignidade", conta a jovem, que chegou há poucos meses em Sorocaba. Vinda de Apiaí com sonhos de estudar e trabalhar, Raquel descobriu que estava grávida. "Vim querendo estudar, trabalhar, mas aí as coisas mudaram. Só que não posso desistir", assegura.
O mesmo fez Fabiana Alves de Azevedo. Casada e mãe de Gustavo, 7 anos, há pouco mais de um mês perdeu o bebê que esperava. Sofreu, mas resolveu não desistir da profissionalização. Com isso, ganhou não somente a oportunidade de aprender muito sobre os cuidados com as mãos e pés, mas se fortaleceu ajudando as colegas.
Fabiana tem talento para o desenho e, após uma pesquisa na internet, descobriu que pode unir isso à pintura das unhas. Usando uma técnica simples, ela cria adesivos em papelão de caixinhas longa-vida e usa na decoração das unhas. Além de ensinar as companheiras, percebeu que pode obter uma renda extra e já tem clientes a sua porta pedindo pelos desenhos. "Faço até sob encomenda, pois muita gente quer coisas diferentes", conta.
Para a coordenadora técnica do Projeto Gerações, Carla Jacques, o curso oferece mais do que a oportunidade de ensinar uma profissão às gestantes: oferece o resgate da dignidade, a oportunidade de perceber que não estão sozinhas diante de uma realidade, muitas vezes, vividas na solidão e no isolamento social.
O projeto é desenvolvido pelo Fundo Social de Solidariedade (FSS) em parceria com as secretarias da Saúde (SES), da Cidadania (Secid) e da Juventude (Sejuv), com apoio da Pastoral da Criança, e já atende a 150 gestantes em situação de risco, oferecendo-lhes também atendimento psicológico, multidisciplinar e de assistência social.