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Dr. GILBERTO POMPERMAYER

Autor: Dr. GILBERTO POMPERMAYER

Carta e diário de uma criança que não nasceu

19/11/2023 - Sorocaba - SP

Ontem foi meu aniversário e eu iria completar um mês de vida. Pensei que você, mamãe, fosse dar-me uma festinha, como todas as mães fazem quando descobrem que estão grávidas.

Pensei que você fosse dar no papai, o beijo que gostaria de dar em mim. Porém a festinha não foi tão alegre como eu esperava.

De fato você foi a farmácia, comprou um presente, pena que este presente tenha causado a minha morte.

E você… não chorou nem um pouquinho… Por que mamãe?

Por que logo no meu aniversário? Eu sabia que por alguns meses eu iria estragar a sua elegância, porém eu havia prometido a mim mesmo que ficaria apertadinho para não lhe prejudicar.

Eu deixaria para crescer depois que nascesse para o mundo. Eu sabia que em seu ventre a escuridão seria grande, entretanto, mais tarde, eu iria lhe contar a minha felicidade em tê-la como minha mamãe.

Olha, eu iria conversar com você quando estivesse triste, fazendo tudo para ver a alegria brotar novamente em seus lábios, com aquele sorriso que as vezes, só você sabe dar.

Eu faria tudo para que essa alegria durasse. Sabe, planejei tanta coisa…

Queria crescer bastante e depois de jovem lutaria com todas as forças para que a guerra acabasse e renascer a paz no mundo.

Eu queria tanto nascer, mamãe, queria crescer para que o perfume da minha existência e de muitas rosas, que eu iria ajudar nascer, embriagassem homem e mulher, e os deixassem incapazes de fabricar máquinas que matam uns aos outros.

Sim, eu queria muita coisa … E você não sentiu, você me assassinou.

Engraçado… pensei que os pais amassem seus filhos, a ponto de dar a própria vida por eles, contudo, você não me deixou viver a vida que eu mal começava.

Olha… este era meu plano, quando estava em seu ventre, hoje não posso planejar nada, pois faço parte dos muitos que nunca cheiraram o perfume das rosas e nem sentiram o sabor da vida.

Espero que você, mamãe, tenha se arrependido, para que isso não aconteça com meus irmãozinhos que estão para vir ao mundo.

Eu lhe perdoo apesar de tudo. E se de tudo fica um pouco, espero que tenha ficado um pouco de mim em Você…

 

Diário de uma criança que não nasceu

05 de outubro - Hoje teve início a minha vida. Papai e mamãe não sabem. Eu sou menor que um alfinete, contudo, sou um ser individual. Todas as minhas características físicas e psíquicas já estão determinadas. Terei os olhos de papai e os cabelos castanhos e ondulados da mamãe. E isso também é certo: eu sou uma menina.

19 de outubro - Hoje começa a abertura de minha boca. Dentro de um ano poderei sorrir quando meus pais se inclinarem sobre meu berço. A minha primeira palavra será Mamãe. Seria verdadeiramente ridículo afirmar que eu sou somente uma parte de minha mãe. Isso não é verdade, pois sou um ser individual.

25 de outubro - O meu coração começou a bater. Ele continuará sua função sem parar jamais, sem descanso, até o fim dessa minha existência. De fato, é isso uma grande dádiva de Deus.

02 de novembro - Os meus braços e as minhas perninhas começaram a crescer até ficarem perfeitas para o trabalho; isto requererá algum tempo, mesmo depois de meu nascimento. Assim que for possível, enroscarei meus bracinhos no pescoço da mamãe e lhe direi o quanto eu a amo.

20 de novembro - Hoje, pela primeira vez, minha mãe percebeu, pelo seu coração, que me traz em seu seio. Acho que ela teve uma grande alegria.

28 de novembro - Todos os meus órgãos estão completamente formados. Eu sou muito grande.

02 de dezembro - Logo mais poderei ver, porém, meus olhos ainda estão costurados com um fio. Luz, cor, flores... como deve ser magnífico! Sobretudo, enche-me de alegria o pensamento de que deverei ver minha mãe... Oh! Se não tivesse que esperar tanto tempo! Faltam ainda mais de seis meses.

12 de dezembro - Crescem-me os cabelos e as sobrancelhas. Já imagino como minha mãe ficará contente com a sua filhinha!

24 de dezembro - O meu coraçãozinho está pronto. Deve haver crianças que nascem com o coração defeituoso. Nesse caso, precisam sujeitar-se a delicada cirurgia para corrigir o defeito. Graças a Deus o meu coração não tem nenhuma anomalia, e serei uma menina cheia de vida e forças. Todos ficarão alegres com meu nascimento.

28 de dezembro - Hoje minha mãe amanheceu diferente, está um pouco angustiada. Mas uma coisa é certa: nós vamos sair para um passeio. Creio que ela quer se distrair um pouco, talvez comprar roupinhas para mim. É isso mesmo, estamos saindo para algum lugar. Ih! Acho que estamos entrando em uma clínica. Deve ser para checar se a minha saúde vai bem. Que ótimo! Quando eu sair daqui, direi à minha mamãe o quanto lhe sou grata. O médico está chegando... Mas... esses instrumentos não são para um exame... Não, mamãe! Não o deixe se aproximar! Ai, que horror! Esta é uma clínica de abortamento! Socorro! Deixem-me nascer! ... Ninguém escuta meus gritos! E meus sonhos de felicidade... Minha vontade de ver a luz, as flores, as cores... Tudo acabado... Sim... Hoje... Hoje minha mãe me assassinou...

A história é dramática e triste, mas, infelizmente, se repete diariamente nas clínicas de abortamento do nosso país ou em casas de pessoas que se alimentam com o dinheiro ganho com o sangue de vítimas indefesas. Hoje já não se pode mais alegar que o feto não é um ser individual, distinto da mãe, pois a ciência afirma o contrário todos os dias. Assim, tanto quem pratica o abortamento quanto quem o consente, deverá responder perante as Leis Divinas sobre esse crime. Pensemos nisso!

 

Com base na Fonte:  H. Schwab (Nur ein Hinderland ist ein Vaterland), ed. Herder

 

www.psicanalistapompermayer.com.br  


 

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