Autor: Vander Christian
Era sábado de manhã, quando ele chegou em casa. Veio junto com o botijão cheio, pedido às pressas; o almoço não podia atrasar.
— Aqui está o seu brinde.
É difícil explicar o fascínio por potes de plásticos. Aquele não era nem tão bonito assim, contudo, chamava a atenção por ter uma flor desenhada na lateral e a tampa ser violeta. Por ser um brinde, ele estava de bom tamanho. Ganhou um belo banho antes de ser usado pela primeira vez.
Perdi a conta de quantas saladas foram temperadas nele. E quando ele não estava cheio de salada, estava no congelador com feijão para ser temperado durante a semana.
— Que pote bonito, onde você comprou?
— Veio de brinde, junto com o gás.
Tinha a impressão que as pessoas não acreditavam que aquele pote, tão bonito, era só um brinde do depósito de gás.
Temos o hábito de se acostumar com certas coisas. Em casa, nos acostumamos com a correria do dia a dia. Comecei a ver o pote de tampa violeta menos do que o normal. Cheguei a pensar em perguntar dele para minha esposa. Não perguntei. Depois, descobri que ela também pensou em me perguntar sobre o pote, mas não perguntou, deixou para uma outra ocasião. Quem diria, achamos normal a ausência do pote, o brinde do deposito de gás. Ele se perdeu em algum lugar dentro de casa. Dizem que perder alguma coisa dentro da própria casa é pior do que perder fora... Concordo plenamente!
O tempo passou, até que chegou o dia em que precisamos do pote. Tínhamos feito uma farofa de feijão em casa, e um casal de amigos gostou muito, queria levar um pouco para casa.
— Aquele pote de tampa violeta vai servir...
— Você viu ele? Não estou achando...
— Sério? Deve estar em algum lugar dentro do armário...
Começou as buscas. Na missão de encontrar o pote de tampa violeta, encontramos outros potes, há muito esquecidos dentro do armário. Cada encontro, era uma felicidade incrível. Difícil explicar o fascínio por potes de plásticos.
Colocamos a farofa para o casal em outro pote. Falhamos na missão de encontrar aquele que era o nosso xodó. Tivemos que admitir que perdemos ele em algum lugar, em alguma ocasião... Restava saber quando, onde e como...
Um dia, minha esposa decidiu fazer pudim, receita nova de uma amiga. Ao pegar a fôrma, algo caiu de dentro. Era o pote com a sua tampa violeta. Quase abraçamos ele de felicidade. É difícil explicar o fascínio por potes...
Certas coisas vivem perdidas. E só conseguimos encontrá-las, no momento certo.
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Até breve,